domingo, 25 de abril de 2021

25 de Abril - uma história para o futuro

Na semana em que se comemora o 47º aniversário da Revolução do 25 de Abril em Portugal (aquela que pôs fim a um longo período de ditadura fascista que colocou o país nos últimos lugares ao nível do desenvolvimento económico e social, taxas de analfabetismo e formação profissional ou defesa dos direitos humanos), as alunas e alunos do 12º ano, turmas D e E e as professoras do grupo de História, quiseram assinalar este importante acontecimento da nossa história contemporânea, porque a História nos permite conhecer e analisar criticamente o que fomos,  para construirmos de forma consciente o que queremos ser no presente e no futuro, e agirmos no sentido de impedir o que acreditamos que não contribui para uma sociedade livre, justa e respeitadora de todos os seres humanos.


E como era Portugal antes de abril?

48 anos de ditadura. Meio século…

Um tempo que parou no tempo…


O mundo rural.

Um tempo duro, de trabalho, suor, cansaço… de luta diária, de vida modesta, pés descalços na calçada fria, bola e boneca de farrapos, ardósia pousada no aparador porque “hoje levas a merenda ao pai e ajudas no trabalho da terra”…

Tempo de broa na mesa, azeitonas e sopa de couves.

Erguer pela madrugada… caminhar até à fazenda… cear pelo meio dia, cavar… regar… ceifar… cortar… arrancar… cavar… regar… ceifar… cortar… arrancar… trabalhar de sol a sol.



“… Livro-vos da guerra mas não vos livro da fome…”

António de Oliveira Salazar



Catarina Eufémia, uma camponesa alentejana assassinada por reivindicar.


O primeiro tema da reflexão grega é a justiça

E eu penso nesse instante em que ficaste exposta

Estavas grávida porém não recuaste

Porque a tua lição é esta: fazer frente


Pois não deste homem por ti

E não ficaste em casa a cozinhar intrigas

Segundo o antiquíssimo método obíquo das mulheres

Nem usaste de manobra ou de calúnia

E não serviste apenas para chorar os mortos


Tinha chegado o tempo

Em que era preciso que alguém não recuasse

E a terra bebeu um sangue duas vezes puro


Porque eras a mulher e não somente a fêmea

Eras a inocência frontal que não recua

Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste

E a busca da justiça continua


Sophia de Mello Breyner Andresen



Zeca Afonso, Chamava-se Catarina



O trabalho duro nos campos do Alentejo… e nos campos de todo o país:





Tempo de escola para alguns, poucos. 


A cortina da separação acontecia no género: rapazes aqui, raparigas acolá, um muro no meio.

As vozes pueris divertiam-se só nas ruas e trilhos, a caminho da escola, transformando-os em recreio. A distância percorrida, por vezes, era de muitos quilómetros, e a pé.

Estudar era privilégio. “Meninos do Liceu”, futuros doutores e engenheiros; os outros, filhos de camponeses e operários, tinham como futuro o campo e as fábricas. Exceções… algumas, poucas…


A escola no Estado Novo:

Imagem obtida em: https://senderosdereflexao.blogspot.com/2015/03/na-escola-sem-sapatos-no-caso-do-meu.html






Tempo hostil, emigração.

Partiram novos e velhos, de olhos molhados, coração triste, com a saca às costas buscando a sorte noutras paragens, noutras aragens, esperando sonhos dourados…

“Adeus oh terra, adeus linda serra de neve a brilhar, adeus aldeia que eu levo na ideia não mais cá voltar!”

Partiram… primeiro para a cidade, depois para o estrangeiro, às centenas, aos milhares… fugindo da pobreza, fugindo da guerra, fugindo do medo…


Zeca Afonso, Canção do desterro



Emigrantes nas gares, de partida, na esperança de uma vida melhor:



Tempo hostil, guerra colonial.


Tempo de guerra que mata, que separa, que morde, que isola, que amedronta, que é solidão. Tempo de morte certa. Tempo que deixou marca na carne, no coração, na saudade.

Tempo em que os navios traziam heróis desmembrados, amputados e mirrados em quatro tábuas ornados por uma bandeira ensanguentada.

Geração de nobres soldados, de uma guerra, que não era sua.


Adriano Correia de Oliveira, Menina dos Olhos tristes




Em África, “lutando pela Pátria”:



Embarque das tropas, para a guerra colonial:




Tempo sombrio e escuro, a repressão.

Meio século que persistia no breu, que morreu de solidão, no gloriosamente sós… 

Meio século de revolta contida, de duro silêncio, de luta heroica e inglória contra o medo, contra a corrente, meio século de esperança arrastada, por uma mudança que não chega…


Zeca Afonso, A formiga no carreiro




“A cantiga é uma arma”



Humberto Delgado, o general sem medo:



José Mário Branco, A cantiga é uma arma




Tempo que oculta, que omite, que afasta, que destrói. Tempo que cala e persegue.

Vozes que se erguem mas que logo se silenciam, que lutam… com palavras proibidas, com cantigas sofridas… Vozes que suspiram ausentes, distantes, longe da terra, longe dos seus… Forçados à ausência, forçados à fuga, sem direito à palavra, sem direito à expressão…

… E a terra que perde seus filhos, por quererem fazer dela maior…

 

Adriano Correia de Oliveira, Manuel Alegre, Trova do vento que passa





A Ação da PIDE:


PIDE dispersa a população em manifestações na Marinha Grande:


Vídeo RTP - O clima político, económico e social durante o estado novo





Vídeo RTP - Portugal antes da democracia




Vídeo TVI - Antes e depois de Abril




Vídeo 12ºE (David Alves, Francisco Ribeiro, Raquel Bernardo, Ricardo Matos e Tatiana Correia) - 25 de Abril 




Vídeo 12ºD e E (Catarina Gomes e Inês Almeida) - 25 de Abril




Abril, a revolução ansiada.

Mas a noite ansiada chegou.

O sinal: uma canção.

A confirmar: outra canção.

O exército sai para a rua e avança. Cumpre o planeado. Cumpre os anseios de há muito.

Um punhado de valorosos capitães deu voz à voz do povo e tomou o poder.

E o poder volta para o povo.


Noticiário RTP - 25 de Abril de 1974




Vídeo 12ºE - Grândola vila morena, uma interpretação das alunas Madalena Nunes e Joana Carvalho




Vídeo 12ºD - Grândola vila morena, uma interpretação da Banda da Covilhã (com André Jacinto)




Os cravos de Abril

Da espingarda brotaram cravos, cravos de esperança, cravos de solidariedade, cravos de igualdade, cravos de paz. Cravos que se tornaram povo, cravos que gritaram Liberdade. Cravos que do desalento e desânimo se transformaram em pão para todos. Grito, que apesar de repetido e gasto, será sempre novo. Novo, porque há caminho a percorrer e arestas a limar e desigualdades a subtrair. Aconteceu festa. As praças, avenidas e vielas transformaram-se em mar, mar de gente, mar colorido e sonoro de vozes trauteando: Somos livres…somos livres… qual gaivota ou papoila! Somos livres de voar, somos livres de crescer, somos livres de sonhar… Não voltaremos atrás!

Muitos regressaram, porque das trevas brotaram liberdade, igualdade e fraternidade.

25 de Abril sempre e para sempre!


Vídeo 12ºE - Canções da Abril, compilação (Fátima Tomás e Rita Brandão)



Vídeo RTP - Jornal Jovem, síntese 25 de Abril de 1974



Vídeo 12ºD - Portugal antes e depois de Abril (Camila Bizarro e Miriam Borralhinho)




Vídeo 12ºD - Portugal antes e depois de Abril I (Joana Lucas)




Vídeo 12ºD - Portugal antes e depois de Abril II (Joana Lucas)



Registos…

Memórias…

Depoimentos...


Vídeo 12ºE - Depoimentos (Ana Freire, Ana Vitória Rodrigues, Camila Amaral, Cláudia Amaral, Isabel Terenas e Margarida Pires)



Vídeo 12ºE - Um pau de dois bicos (Beatriz Santos, Maria Beatriz Gigante e Margarida Esgalhado)



Vídeo 12ºE - Entrevista (Alexandra Macedo)




As papoilas cresceram, grito vermelho num campo qualquer e floriram.

O que era de alguns passou a poder ser de todos e para todos.

E o colorido tornou-se visível!

 

Sérgio Godinho, O primeiro dia




Os tempos que vivemos são tempos que nos impõem parar, refletir, olhar e estudar o passado e nele dissecar tudo. São tempos que nos impõem um olhar crítico para, como povo, construirmos consensos, trilharmos caminhos de coesão e inclusão e consigamos combater intolerâncias pessoais ou sociais.

“Que o 25 de Abril viva sempre, como gesto libertador e refundador da história. 
Que saibamos fazer dessa nossa história lição de presente e de futuro, sem álibis nem omissões, mas sem apoucamentos injustificados querendo muito mais e muito melhor.

Houve, há e haverá sempre um só Portugal.Um Portugal que amamos e nos orgulhamos para além dos seus claros e escuros também porque é nosso.

Nós somos esse Portugal. Viva o 25 de Abril! Viva Portugal!”.

Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa
Discurso na Sessão solene comemorativa do 47º aniversário do 25 de abril.






Textos: professoras Lídia Mineiro e Estrela Pissarra

Colaboração: professoras Alice Tavares e Maria do Céu Alexandre

Assistência Técnica: professores Paulo Morais e Anabela Pinto

Recursos recolhidos e produzidos pelos alunos do 12º D e 12º E

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